Há mais «vida» nos CSP para além das USF tradicionais?

No dia 27 de março, pelas 10h00, o Encontro Nacional vai acolher uma mesa de enorme interesse, subordinada ao tema «Modelos organizativo salternativos em CSP». A intenção é a de reimaginar organizações de saúde que consigam resgatar o entusiasmo dos profissionais, ao divulgar e debaterprojetos organizativos alternativos em CSP, através da análise de três modos de pensar a governação integrada das unidades de saúde. A começar pelo modelo da USF Inovar, que procura maximizar o alcance das ações de cada profissão, baseada na utilização otimizada de especializações e preferências individuais. A mudança mais significativa em relação ao modelo convencional é o fim das microequipas, substituídas por uma equipa multiprofissional que serve a totalidade dos utentes. Depois, há a considerar a proposta do Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras para os CSP, que consiste em estabelecer um centro inovador que integre assistência clínica à comunidade, formação de profissionais de saúde e investigação clínica. Por último, o modelo da Trofa Saúde, mais centrado no respeito pelos princípios da economia privada, da efetividade, da criação de valor e da centralidade no doente.

 

A sessão será moderada por Mário Santos (membro da Comissão Organizadora) e contará com os contributos de Alexandra Fernandes (coordenadora da USF Inovar e membro da Rede Colaborativa para a Inovação nas USF), Joaquim Ferreira (coordenador pela FMUL do Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras e Diretor Clínico do CNS-Campus Neurológico, em Torres Vedras) e Paulo Santos (professor associado com agregação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – FMUP – diretor do mestrado em Cuidados de Saúde Primários da FMUP e ex-presidente do Colégio de MGF da Ordem dos Médicos).


Este é um debate fundamental nos dias que correm, na ótica de Alexandra Fernandes: “o modelo USF, que tantas virtudes tem demonstrado, foi criado há 20anos e necessita, a meu ver, de ser adaptado às circunstâncias atuais. Circunstâncias demográficas, tais com o envelhecimento progressivo da população e consequente aumento da carga de doença e o aumento da imigração e dos residentes «em trânsito», circunstâncias sócio-profissionais, tais como acrescente dificuldade em fixar médicos no SNS e, por outro lado, o desenvolvimento de várias profissões da área da saúde, que podem dar um bom contributo aos CSP e finalmente circunstâncias (antigas e nunca resolvidas) de desigualdade no acesso aos CSP, com mais de um milhão e meio de residentes em Portugal sem médico de família atribuído”.

 

A coordenadora da USF Inovar vai na sessão dar nota do crescimento desta unidade e da equipa de saúde que a faz avançar, explicitando um projeto que nas suas palavras “reflete uma abordagem colaborativa e integrada na prestação de cuidados de saúde. O principal objetivo é promover a eficiência ea satisfação tanto dos profissionais quanto dos utentes, através da distribuição inteligente de tarefas conforme as competências específicas de cada grupo profissional”. Alexandra Fernandes sublinha ainda que “a filosofia do modelo não estabelece o médico de família como a única referência de cuidados, mas integra enfermeiros na continuidade do atendimento. Isso permite uma gestão mais flexível das ausências e horários, já que a falta de um profissional não compromete o atendimento. A autonomia dos internos é também valorizada, favorecendo a aprendizagem e a contribuição para a equipa”.

 

Recorda, todavia, que existem “desafios e ameaças que exigem atenção ”no processo de implementação desta nova maneira das equipas se organizarem, e que “a resistência ao novo modelo pode gerar tensões, assim como o risco de frustração de expectativas, tanto dos utentes quanto dos profissionais. Existe também a possibilidade de comprometer a personalização e continuidade dos cuidados, além de criar um ambiente que facilite a desresponsabilização. Por outro lado, as potencialidades são vastas. O trabalho colaborativo permite rentabilizar competências e preferências individuais, assegura uma gestão maiságil das ausências e fomenta o espírito de equipa. Estes fatores contribuem para o aumento da satisfação de profissionais e utentes, criando um ambiente mais dinâmico e eficiente na prestação de cuidados de saúde”.

 

Para Alexandra Fernandes, “a experiência da USF Inovar demonstra que a implementação de uma equipa alargada, com distribuição responsável e colaborativa de tarefas, é um caminho promissor para melhorar a qualidade e eficiência dos cuidados de saúde primários”, indícios que certamente trará consigo a Tróia no final de março.